As lições de Pedro Lima, presidente do grupo 3 Corações
Aos 52 anos, Pedro Lima, presidente do Grupo 3 Corações, não consegue falar de sua história sem se lembrar da terra de onde saíram os primeiros cafés da família, em São Miguel, no interior do Rio Grande Norte. Lá, Pedro foi criado pelo pai, “um empreendedor inventivo”, e pela mãe, a pessoa que trazia racionalidade e segurança à família. Na cidade, que não tinha médico e possuía apenas dois carros para seis mil habitantes, é que Pedro viu três de seus oito irmãos falecerem por “doenças simples”. Foi também em São Miguel que ele viu seu pai, João Alves de Lima, fundar vários pequenos negócios — do cultivo de café à uma fábrica de sabão. E é de lá que sua mãe insistia que ele saísse e fosse para um local onde pudesse estudar, trabalhar e “ser gente”. Pedro bem que tentou.
Aos 17 anos, foi aprovado em agronomia na Universidade de Mossoró. Passados dois anos e meio, porém, percebeu que ele curtia mesmo o que seu pai mais gostava: o comércio. Para desespero da mãe, Pedro largaria os estudos e voltaria à pequena São Miguel para ajudar no negócio da família, que, em 1985, processava 100 quilos de café por mês.
Ao voltar, ele chamou os dois irmãos caçulas e assumiu a empresa do pai. Três décadas depois, após fusões e aquisições, o agora Grupo 3 Corações irá faturar R$ 3,5 bilhões neste ano. A companhia cresceu dois dígitos nos últimos dez anos. Como fornecedora oficial da Vila dos Atletas, na Rio 2016, ofereceu 1,5 milhão de doses aos visitantes. Para os próximos meses, o grupo irá investir na expansão pela América do Sul, lançar novos cafés especiais e tipos de cápsulas. “A gente nunca vai deixar de tomar café na xícara e pela boca, mas vamos prepará-lo de várias outras formas”, diz Pedro. Em palestra realizada nesta terça-feira (18/10), no CEO Summit, em São Paulo, Pedro Lima compartilhou alguns ensinamentos. Confira:
Mude até o nome, se necessário: Assim que Pedro assumiu a pequena empresa do pai ao lado dos irmãos, Paulo e Vicente, ele voltou a Natal para contratar uma agência de publicidade. Ele precisava divulgar sua empresa para além dos limites de São Miguel. Ouviu do dono da agência que o café deveria mudar de nome. Afinal, aquele era grande demais. “O café chamava Nossa Senhora de Fátima. Muito grande para qualquer tipo de marketing”, diz. Virou o simples e conciso Santa Clara. Com o novo nome, ele se tornaria líder no Nordeste, principalmente ao adquirir o Café Kimimo, em 1997.
Crie e cultive laços: Pedro diz que a maior lição que seu pai lhe deu foi aprender a cultivar laços, algo que ele colocou em prática com todos os envolvidos nas atividades de sua empresa. “O empreendedor precisa entender sua origem, o DNA da sua família”, afirma. “Nós não somos galetos que não sabem de onde vêm nem para onde vão”
Não se envolva em negócios fora do que você sabe fazer: Pedro diz que o maior erro é entrar em setores que você desconhece. Ele relembra o ano de 1997, quando o grupo Santa Clara adquiriu um negócio em Alagoas não relacionado ao segmento de café. Foi, nas palavras do empresário, uma “loucura”. “Aprendi ali que você precisa conhecer o tipo de negócio com o qual trabalha”. Hoje, ele se diz feliz em lidar com café, um “negócio amigável em toda a cadeia” — do fornecedor ao consumidor. “O cliente está feliz como consumidor de café”. O empresário define a bebida como um “energético natural”, que “dá tranquilidade na luta do dia a dia”.
Saiba fazer parcerias sem se tornar refém: Antes de acertar uma fusão com a marca 3 Corações, em 2005, o grupo Santa Clara passou por várias mesas de negociação. Pedro conta que a primeira tentativa de uma fusão ocorreu em 1998, quando ele se sentou com executivos da Damasco. Na época, não houve acordo. “Como eles estavam no Sudeste, fizeram a conta e acharam que o negócio deles valia mais que o nosso. No entanto, eu faturava e lucrava mais. Portanto, não aceitei. No fim, ficamos amigos”, diz.
No ano seguinte, em 1999, a família Tavares vendeu a 3 Corações para a israelense Strauss. Após a compra, a companhia tentou uma fusão com o grupo Santa Clara. No final da década de 90, segundo Pedro, a Santa Clara faturava R$ 127 milhões e a 3 Corações, R$ 90 milhões. “Desenhamos um acordo que dividiria a empresa meio a meio, mas quando fomos assinar o contrato eles pediram o comando. Não fechamos negócio”.
Mais alguns anos se passaram. Em 2005, Pedro recebeu um novo telefonema da Strauss. A empresa israelense queria falar sobre uma possível parceria. Na época, eles faturavam R$ 106 milhões contra R$ 160 milhões da Santa Clara. “Eles disseram que só perderam dinheiro nos últimos anos e que aceitavam a divisão de 50% a 50%. Fechamos negócio”. São dez anos de parceria desde então. “O mais importante dessa história é ver que você precisa saber o que está fazendo para não ficar refém de seu parceiro. A união precisa ser um negócio sadio para ambas as partes”.
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