Há mais de 15 anos, a acadêmica Saras Sarasvathy, indiana radicada nos Estados Unidos, começou a se perguntar: “o que faz com que os empreendedores sejam empreendedores?”. A partir deste questionamento, decidiu investigar o que fundadores de empresas tinham em comum e, principalmente, qual era o processo que utilizavam para tirar suas ideias do papel.
Saras observou que, ao contrário da lógica “causal” normalmente ensinada nas escolas, segundo a qual partimos de um objetivo futuro e dele construímos os meios para chegar lá, a maior parte desses empreendedores pesquisados utilizava um processo diferente. Seguindo a lógica do “effectuation”, eles entendiam que era preciso conhecer primeiro os meios que tinham disponíveis para, então, construir e clarear o fim a que se pretendia chegar.
Ao constatar tal fato, Saras observou que o processo pelo qual esses empreendedores passavam seguia mais ou menos os seguintes princípios:
1. O pássaro na mão
Ao iniciar seu negócio, o empreendedor se perguntava “Quem sou eu? O que eu sei? Quem eu conheço?”, para, então, definir quais seriam os seus primeiros passos. Assim, partia para um novo desafio tendo como base aquilo que já estava ao seu alcance, ao invés de esperar eternamente pelo “momento ideal” ou pela “oportunidade perfeita”.
2. A perda acessível
Em vez de, logo de cara, já imaginar as possibilidades de ganho com o negócio, esses empreendedores se perguntavam antes: “O que vou perder caso meu negócio não dê certo?”. Se eles julgassem que essa possível perda era suportável, seguiam em frente.
3. Do limão, uma limonada
Os empreendedores estavam abertos a testar ideias e, caso elas dessem errado, se adaptar a partir da análise dos resultados obtidos.
4. A colcha de retalhos
Eles também construíam parcerias e somavam forças com pessoas e organizações que estivessem comprometidas a criar algo novo e que pudessem agregar ao negócio inicial, em vez de se preocupar desde o começo com potenciais concorrentes.
Esses são quatro princípios simples, eficazes e adaptáveis. Podemos facilmente substituir o objetivo de criar um novo negócio pelo de construir uma carreira de sucesso, em qualquer setor.
Primeiramente, é importante termos uma ideia, ainda que vaga, de onde queremos chegar. Da mesma forma que os empreendedores sabiam que queriam ter um negócio, ainda que não soubessem qual exatamente ele seria, é importante termos um norte para a nossa carreira, mesmo que ele seja abrangente. Algo como “quero ser um grande executivo” ou “quero causar impacto no setor público”, por exemplo.
A partir disso, é importante começar com o pássaro que está na nossa mão, como ensina o primeiro princípio. Quem é você? Quais conhecimentos e habilidades possui? Quem faz parte da sua rede de contatos? Refletindo sobre essas questões, percebemos que, por mais distantes que estejamos do nosso objetivo final, que é construir uma carreira de sucesso, é possível enxergar um ponto de partida claro. Se seu objetivo é conquistar um cargo de liderança, vale refletir sobre as suas melhores competências e como é possível aplicá-las ao máximo no seu trabalho hoje. Agora, se o foco está nas políticas públicas, já parou para conversar com conhecidos que atuam na área e que podem lhe dar grandes dicas?
Depois de dar um primeiro passo em direção ao seu objetivo, como decidir se vale a pena seguir em frente? Tente não perder muito tempo pensando em todas as variáveis que podem levar suas decisões a trazerem o resultado esperado. Procure imaginar: caso o caminho que você escolheu dê errado, quais seriam as piores consequências dessa tentativa? Se elas forem suportáveis, siga em frente, arrisque! Coloque na ponta do lápis quantas horas investirá na carreira corporativa em detrimento de outros afazeres, ou quanto custará o investimento inicial para testar um piloto do seu projeto no bairro vizinho. Concluiu que valerá a pena? Então, é hora de seguir.
Caso receba um limão, faça dele uma limonada. Querendo ou não, ao empreender um novo negócio ou seguir carreira em uma organização, aparecerão muitos limões. O que separa as pessoas que chegam mais longe daquelas que ficam pelo caminho é a capacidade que elas têm de transformar dificuldades em oportunidades. O produto que você estava desenvolvendo na empresa teve um efeito diferente do esperado? A vaga para a qual você estava se preparando acabou não abrindo? Em vez de se frustrar com o resultado, pense de que outra forma poderá aplicar o conhecimento adquirido no processo. Certamente o aprendizado poderá ser útil em outra situação.
Finalmente, saiba que você não chegará muito longe sozinho. Busque parceiros, ative sua rede e junte-se a pessoas com habilidades e conhecimentos complementares aos seus. São associações como estas que poderão lhe ajudar ao longo do caminho. Conte com os colegas de trabalho ao executar um grande projeto dentro da sua empresa. Ou reúna profissionais interessados na mesma temática que você para compartilhar seus planos.
Ao abrir o próprio negócio ou ao evoluir na sua carreira, os princípios do “effectuation” se provam muito úteis. Eles nos mostram que, para progredir, precisamos começar. As barreiras que nós geralmente encontramos ao tirar as ideias do papel e caminhar para frente, muitas vezes, não existem ou não são tão grandes como imaginávamos.
O mais importante é entender qual o nosso ponto de partida e dar os primeiros passos com ciência dos riscos a serem enfrentados, nos adaptando ao longo do caminho e construindo uma rede de apoio que nos auxiliará a chegar lá.
Fonte: Época Negócios