Mel de Coruja, expressão do repertório popular, descreve aquilo que é malfeito, uma tapeação para algo que deveria ser bem realizado e não foi. Estamos utilizando aqui para descrever ações públicas na cidade.
Perguntado sobre o porquê de fazer pinturas tão detalhadas e perfeitas nas abóbadas das catedrais, se do térreo não se via tamanha beleza, Miguelangelo respondeu com sabedoria: “onde os olhos do homem não veem, Deus contempla a perfeição”. Está aí um sábio princípio, que deve ser a bússola para aqueles que querem se tornar grandes profissionais, referências em qualidade. É através das pequenas coisas que se chegam às grandes realizações, e as obras perfeitas e imperfeitas nos fazem conhecer os artistas.
Nas últimas semanas surgiram pintores de meio fio na área central, cuja missão era melhorar a aparência da cidade. Ágeis na brocha tinham de fazer o trabalho com rapidez, porque a ordem da Prefeitura era deixar a cidade “mais bonita” num curto espaço de tempo.
Uma ironia, porque enquanto pintavam o meio fio, a rua estava suja com lixo a recolher , e os “pintores” fingiam não ver. Os bueiros estavam entupidos, as praças públicas abandonadas e sujas, mas isso pouco importava. A ideia era criar uma aparência de limpeza para a opinião pública. Uma ação parecida com aquela de quem varre a casa e joga a sujeira debaixo do tapete. Ou então daquele antigo Contador, que costumava ir ao sapateiro, colocar “meia sola”.
Como nesta administração qualidade, planejamento, durabilidade, e eficiência estão difíceis de ser notadas, os pintores usavam cal puro, sem fixador, portanto, quando a equipe chegasse ao final da avenida, a pintura inicial já teria sido parcialmente apagada.
Semelhante ao que aconteceu com o cal do meio fio, também ocorrem serviços mal-feitos noutras áreas da administração. Na segunda semana de maio, se comemora a Semana do Empreendedor Individual. Foram formalizados na administração passada mais de 13.000 MEI – Empreendedor Individual, que deveriam receber da Prefeitura cursos com orientações técnicas, para preencherem as Declarações Anuais de Rendimentos. A partir do fim deste mês, a data limite, os não declarantes serão bloqueados e impedidos de emitir nota fiscal, voltando a informalidade, com descrédito ao Projeto de Implementação da Lei Geral.
Na gestão passada, em conjunto com o SEBRAE, fizemos ações itinerantes nos bairros da cidade, alertando aos empreendedores para regularizar seus negócios. Com a desculpa de que “tem que economizar” associada à desorientação interna, hoje isso não acontece. A Prefeitura arrecada mais de seis milhões mensais dos MEI, e parte deste dinheiro deveria ser, mas não é utilizada em campanhas publicitárias para informar e fortalecer os pequenos negócios.
Cidades de pequeno porte como Padre Carvalho, Josenópolis, Grão Mogol, Cristália, Capitão Enéas e Itacambira junto com o SEBRAE estão realizando a Semana do Empreendedor Individual. Montes Claros ficou de fora, o que é uma vergonha, pois, pelo seu tamanho, deveria ser exemplo e referência, mas, a gestão atual passou um “mel de coruja” também na aplicação da Lei Geral das Micro e Pequenas Empresas.
O Contador com sua pompa costumeira de grande conhecedor de assuntos infinitos, não tem competência para orientar sua equipe para trabalhar, para ser eficiente, num programa que foi deixado estruturado e avaliado como referência nacional durante a gestão anterior. No conforto da sua poltrona, prefere juntar dinheiro e fazer caixa, para uma pseudo grande obra. Na sua imaginação a Prefeitura vai de “vento em popa” e até criou um ponto facultativo, no último dia 28, para prolongar o feriado, agradando a CUT e a esquerda Católica, que fracassaram ao fazer uma grande caminhada de protesto pelo centro da cidade.
A greve dos médicos especialistas superlotou os hospitais, que estão com as finanças precárias e abandonadas ao destino fúnebre. Os doentes “que se virem”, porque na Corte não existem problemas.
Entre um delírio de grandeza e outro, vemos a cidade encontrar o caos, cada setor num dia determinado. A água das residências está sendo regrada à terça parte do consumo anterior para não faltar. Queremos ver, mas não vemos o enfastiado Contador criar coragem e ir à Copasa cobrar obras de melhoria. A estatal mista, até aqui, depois de arrecadar durante 30 anos, não fez benfeitorias de peso para ampliar o abastecimento e matar a nossa sede.
A imobilidade do poder público é contagiosa e vai se alastrando população afora, que vendo o marasmo, começa também, seletivamente, a não recolher seus impostos. Precisamos reverter o caos e impedir que ele seja o nosso local de chegada.
(*) – Consultor e Diretor da LD Consultoria